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Cinto de segurança protege mesmo?

É claro que o item é essencial, mas refletir sobre o assunto é fundamental para uma maior conscientização de seu uso
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De acordo com a biomecânica dos traumas, médicos e engenheiros não hesitam em destacar a importância do cinto de segurança. Você já sabe como usá-lo corretamente. Mas como ele funciona? Como é a proteção que ele oferece? Que riscos ele evita?

É necessário compreender que, dentro do sistema de proteção, o cinto é um mecanismo de retenção. Em decorrência disto, nos casos de colisão ou freada brusca, contribui para reduzir a probabilidade de choque dos corpos contra a estrutura interna dos veículos (painel de instrumentos, volante e, principalmente, para-brisa). É também função do cinto absorver parte da carga do impacto e distribuir a restante, uniformemente, por toda a extensão de contato com o corpo – que são áreas mais fortes.

A dinâmica de qualquer impacto (batida ou freada brusca) gera ou pode gerar até três colisões: a primeira, do veículo contra um objeto fixo; a segunda, dos ocupantes entre si e/ou contra o interior do veículo; e a terceira, dos órgãos internos contra a estrutura óssea do corpo humano. Mesmo sem a primeira, a segunda e terceira podem ocorrer com uma simples freada. A maior parte das lesões sofridas por ocupantes de veículos se origina na segunda colisão.

Essa é uma noção fundamental: o cinto diminui a probabilidade de morte de seu usuário – por evitar a ejeção (o lançamento da pessoa do banco devido à inércia) – mas não garante que partes do corpo (pernas e braços) irão ficar imóveis no interior do veículo, chocando-se com essa estrutura sob risco de lesões diversas.

Crédito: Divulgação
Cinto1O cinto é o item de segurança mais essencial do veículo.

O cinto como parte de um sistema

É mais seguro trafegar com o cinto de segurança, ainda que as lesões internas não possam ser prevenidas ou evitadas com seu uso. No caso do “efeito chicote” (movimento brusco para frente e para trás da cabeça do ocupante em caso de impacto, que pode resultar em fraturas da coluna cervical e/ou lesão medular), a presença do encosto ajustado corretamente é fundamental para garantir que o cinto não agrave as consequências. Saiba mais sobre o posicionamento do encosto de cabeça aqui. É inquestionável o poder que esse mecanismo possui de reduzir a probabilidade de mortes e de lesões graves de ocupantes e, ainda hoje, não há qualquer outra solução de engenharia que suplante a proteção proporcionada pelo cinto de segurança.

Entretanto, é importante que se saiba que todo benefício no quesito segurança depende da existência e ações combinadas dos elementos do sistema de proteção, no qual o cinto representa cerca de 90% de sua eficácia. Complementam a ação do cinto outros elementos de segurança passiva, como o airbag, o encosto de cabeça, a coluna de direção retrátil, portas com reforço lateral e tanque de combustível resistente a impactos e ao fogo.

Assim, conhecer e saber usar corretamente os equipamentos de proteção é uma garantia de se expor a riscos menores. Por exemplo, crer que é seguro passear de carro sem cinto devido ao airbag é uma falácia. Este, como segurança complementar, foi pensado e desenvolvido com base no trabalho de ação e reação do corpo no caso de estar utilizando cinto. Então, o bom e velho cinto retém o corpo para dar tempo de o airbag inflar e garante a trajetória dos ocupantes em direção à bolsa de ar, de modo que a falta ou uso inadequado desses equipamentos é altamente perigoso para a vida ou integridade física dos ocupantes de veículos automotores.

Melhorando o cinto

Se ainda não foi criado nenhum item mais eficaz que o cinto, algumas montadoras já perceberam que ele pode ser ainda melhor. A Fiat, por exemplo, apostou no ano passado em atrair o interesse das crianças que já podem usá-lo (com mais de 1,45 m e acima de 36 kg – cerca de 10 anos) com capas de heróis da DC Comics, como o Batman, a Mulher Maravilha e o Flash. A campanha foi batizada de “Abraço Herói” . Outro exemplo é a Ford, que determinou que o Fusion 2014 fosse produzido com airbag de série no cinto, aumentando a segurança do item. Confira:

Créditos: Divulgação
Cinto2Montadoras buscam aprimorar o uso ou a atração do cinto em relação aos usuários.


Tipos de cinto e cuidados em seu uso

A variedade é grande, mas – afinal – qual é a melhor alternativa? Originalmente, os cintos de segurança envolviam apenas a pélvis do usuário, permitindo assim que o tronco fosse projetado para a frente no momento da desaceleração, facilitando fraturas com toda a energia cinética do indivíduo aplicada na pélvis. Depois, tivemos o cinto diagonal, que evitava o problema do cinto anterior, mas continha o risco de as pessoas escorregarem por baixo. Aperfeiçoados, os equipamentos modernos (chamados de cintos de segurança de três pontos, criados pela Volvo em 1959) cruzam o peito do usuário, proporcionando-lhe maior segurança. Contudo, e apesar da obrigatoriedade de seu uso, o cinto é frequentemente desprezado no banco de trás dos veículos. Isto é um erro, porque – em caso de acidente – os ocupantes de trás sempre são projetados para a frente, ferindo-se e pondo em maior risco a integridade dos ocupantes dos assentos dianteiros.

Com o tempo, surgiram mais novidades: o cinto de quatro pontos, que segura o tórax dos dois lados, e não apenas de um, como no de três pontos. Junte-se a isso a bolsa de ar acoplada ao cinto, que infla na hora da desaceleração, e você tem um sistema com ótimos resultados na proteção dos ocupantes do veículo.

Créditos: Ford Motor/Wieck Media Services
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A Ford tem inovado com o cinto de quatro pontos com airbag acoplado.

Além disso, é importante que não esteja desgastado pelo sol; as fibras não podem estar se desprendendo, o equipamento não pode estar amarrado, costurado, o sistema de engate-desengate e estiramento deve estar em perfeito estado e o item não pode ser modificado ou instalado por profissionais sem conhecimento específico. Além disto, não o use torcido, embaixo do ombro, com o banco reclinado, com postura torácica inadequada. Tudo isto anula o sistema de segurança.

Para os pequenos passageiros existem dispositivos específicos, que são as cadeiras ou assentos de segurança. Veja como transportar crianças aqui.

Fontes: Apresentação do Eng.º MARCUS ROMARO, MScRede Sarah de hospitais de reabilitaçãoIntelogDetran-PRG1EstradasConsciência prevencionista.

Estatísticas

De acordo com o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), um dos maiores componentes operacionais do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, o uso do cinto diminui em praticamente 50% o número de mortes e ferimentos graves decorrentes de acidentes automotores. Dados da National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA), autarquia do Departamento de Transportes norte-americano, dão conta de que o cinto de três pontos reduz em 45% o risco de danos fatais e em 50% o de ferimentos moderados a críticos. Uma estatística do mesmo órgão, que comprova isto muito bem, é a de que – em 2008 – o cinto salvou a vida de mais de 13 mil pessoas acima dos 4 anos. Se todos desta amostragem (acima dos 4 anos) estivessem usando o cinto, este número saltaria a quase 17,5 mil.

A Rede SARAH de Hospitais de Reabilitação, uma das maiores nesta área no Brasil, informa que – no 1º semestre de 2013 (dado mais atual disponível) – quase 45% dos internados por causas externas se deram devido a acidentes de trânsito, sendo que 68% não usavam cinto de segurança. Dos acidentados internados na Rede SARAH, apenas 30% dos que estavam nos bancos dianteiros relataram o uso do equipamento, enquanto que – em relação aos ocupantes do banco traseiro – este número cai para 24%.


Crédito: Divulgação/Rede SARAH
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A incidência dos eventos de trânsito é tão grande que ninguém está imune; por isto, o cinto é fundamental.

A importância do cinto no banco de trás, muitas vezes ignorado pela população, não é pouca. Sete em cada dez internados na Rede SARAH após viajarem sem o item no banco traseiro sofreram lesão medular. Em um material de divulgação, a instituição explica o porquê: se a pessoa que está atrás pesa cerca de 60 kg e o veículo se choca frontalmente (como a maioria das colisões) a 60 km/h, os ocupantes do veículo continuarão a “viagem” na mesma velocidade, deslocando-se para frente e para cima, rumo a um “alvo” que os pare. O problema é que o ocupante do banco traseiro, antes de alcançar o para-brisa, poderá “atropelar” quem estiver na frente, impondo grande risco de morte a estas pessoas. Afinal, um corpo de 60 kg a 60 km/h tem a potência de, no choque, oferecer uma força de uma tonelada.

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